A estabilidade e longevidade dos planos de saúde passam necessariamente pela medicina preventiva
A estabilidade e longevidade dos planos de saúde passam necessariamente pela medicina preventiva
Hoje, a assistência à saúde suplementar funciona da seguinte maneira: o usuário procura o médico através da lista de credenciados ao seu plano de saúde quando percebe que algo parece estar muito errado, e em muitas das vezes o médico procurado não tem qualquer ligação com aquela pessoa, o que o leva a proceder uma investigação diagnóstica através de uma série de exames, às vezes desnecessários, mas essa é a realidade. Esse é o modelo que impera há décadas, que não visa a redução de doenças e outros agravos, ele é centrado exclusivamente no tratamento da doença.
Na minha visão, a assistência médica centrada na doença está na contramão das necessidades da população assistida. Por quê? Porque o usuário só passa a ser percebido pelo plano de saúde quando ficar doente, e nessa hora, a única alternativa é arcar com todas as despesas, mesmo que elas sejam exageradas e muitas vezes inúteis.
Além disso, existe uma variável significativa para o aumento de custos que está fora de controle, é aquela em que os usuários pleiteiam tratamentos que não estão previstos nos contratos e quando o plano nega eles vão a justiça e entram com uma liminar, e o plano é obrigado a pagar. Sabemos que isso é comum.
E mais, esse modelo gera uma divisão entre as operadoras e os médicos, as operadoras ficam contra os médicos porque acham que eles pedem exames demais, e os médicos por sua vez, acham que são mal remunerados e que o único jeito deles sobreviverem é atender muitos pacientes, obviamente com perda da qualidade de atendimento, o que tende a elevar os custos assistenciais. É uma queda de braço sem fim, onde todos perdem. Esse tipo de assistência à saúde não tem condições de sobreviver por muito mais tempo. Basta ver, o número de operadoras que fecharam suas portas desde a lei 9656/98.
Agora vamos analisar alguns fatos. Existem vários estudos publicados, conhecidos pela comunidade médica e profissionais que militam na área da saúde, que revela que mais de 60% dos pacientes crônicos só descobriram a doença após o aparecimento dos sintomas. Esse dado confirma um hábito dos brasileiros de só procurar um médico quando a saúde dá sinais de que alguma coisa está errada. Ele por si só, já é um indício suficiente para se pensar na promoção da saúde.
O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísta, já publicou que a população que mais cresce é aquela acima dos 60 anos de idade, justamente aquela que vai ter problemas crônicos de saúde, problemas cardiológicos, vasculares, derrames cerebrais, diabetes etc.
A comunidade médica vem alertando que mais da metade da população está acima do peso, e que a obesidade é um problema sério, ela é um pacote, junto com ela vem pressão alta, problemas reumatológicos, ortopédicos etc. E esses tratamentos são caríssimos.
A ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, publicou que pacientes doentes custam 7 vezes mais do que pacientes saudáveis. Ora! Se pacientes doentes custam mais e a medicina preventiva evita que as pessoas adoeçam, logo a medicina preventiva gera economia, e ainda contribui para o mapeamento do perfil epidemiológico da carteira de associados, porque através das iniciativas de prevenção e promoção da saúde é possível identificar as necessidades de cada grupo de risco. Então, não dá para negar que a medicina preventiva é benéfica ao indivíduo e a operadora.
O objetivo da medicina preventiva é prevenir doenças, retardar o desenvolvimento daquelas que já estão instaladas e minimizar a possibilidade de futuras complicações. O princípio da medicina preventiva é incentivar a população a frequentar os consultórios médicos, isso significa realizar exames clínicos e laboratoriais de acordo com a periodicidade necessária, levando em consideração aspectos como idade, gênero e como grupo de risco, ou seja, em resumo, é fazer um check-up.
A medicina preventiva não foca no tratamento de doenças e nem na recuperação da saúde, ela visa a promoção e manutenção da saúde, portanto, não se trata de medicina curativa, aquela que está relacionada ao tratamento de doenças. E é isso que fará toda a diferença para a estabilidade e longevidade da saúde suplementar no Brasil. Porque se o indivíduo saudável gera menos custos, por consequência, as operadoras poderão ofertar seus produtos com preços mais compatíveis com a realidade econômica brasileira, o que poderá ocasionar, a inclusão de uma parcela significativa dos ¾ da população que depende exclusivamente do SUS, ao sistema de saúde suplementar.
Se nós pensarmos cuidadosamente na estabilidade e longevidade dos planos de saúde, iremos perceber que só há uma alternativa, essa alternativa é centrar a assistência à saúde na prevenção, para evitar que as pessoas envelheçam em mal estado de saúde e que os custos dos tratamentos possam descambar para uma total perda de controle. Ou encaramos essa realidade, ou então, chegaremos ao ponto de não haver dinheiro nas operadoras para arcar com os problemas de saúde da população assistida. Não há outra saída!