Admirável mundo novo
Admirável mundo novo
Em meio a pandemia que estamos vivendo em função do COVID-19 é inevitável analisar as mudanças profundas que a sociedade vem sofrendo de maneira acelerada.
Muitas dessas mudanças estão sendo catalisadas pelo cenário que estamos vivendo em função do vírus e elas poderão ser de caráter definitivo ou provisório. O fato é que o mundo, após todo esse processo, não será mais o mesmo.
Relações pessoais, comerciais, trabalhistas sofrerão mutações sensíveis. Até mesmo alterações no comportamento individual serão inevitáveis. Cabe a nós fazer com que essas mudanças sejam positivas e duradouras e que possamos sair desse processo com um mundo melhor.
Vamos elencar aqui cinco pontos que devemos melhorar após a pandemia com as lições aprendidas:
Consumismo
O distanciamento social somado a incerteza do impacto econômico que a ele irá gerar tem feito com que as pessoas tenham um consumo mais consciente. É muito provável que mesmo após a liberação de circulação das pessoas, as compras sejam feitas de uma maneira mais “pensada”, sem o impulso. Questionamentos pessoais na hora da compra devem ser feitos:
- Precisamos mesmo do gadget de última geração?
- Será que é mesmo necessário comprar um tênis novo?
- Preciso realmente dessa blusa nova?
Essa mudança no consumo poderá trazer mudanças significativas na economia, pois no modelo capitalista o dinheiro precisa circular. Por outro lado, podemos estar entrando em uma era de bens mais duráveis e, de quebra, reduzindo a produção de lixo e contribuindo com o meio ambiente.
Relações de Trabalho
Talvez a mudança mais óbvia desse cenário será a aceleração do processo de adesão ao home office.
A relação das empresas e colaboradores com o trabalho nunca mais será a mesma. Muitas empresas irão adotar com mais frequência modalidades variadas de trabalho, tanto no sentido de alocação da mão de obra, quanto em horários flexíveis.
A quarentena forçou muitos que sequer consideravam essa hipótese a ter que correr para se adequar rapidamente a um modelo de trabalho remoto e essa mudança em muitos casos será irreversível.
O reflexo disso também será sentido no mercado imobiliário, com imóveis comerciais ficando vazios, obrigando não só o mercado mas também o espaço urbano a se reinventar.
Isso trará impacto também na qualidade de vida dos colaboradores que gastarão menos tempo de deslocamento, adoção de mais reuniões virtuais em detrimento de presenciais, melhorando também o trânsito nas cidades e na poluição gerada por esses deslocamentos.
Consciente Coletivo
Uma das coisas mais importante que essa pandemia tem mostrado é o quanto os seres humanos são semelhantes, em detrimento de classe social, econômica, credo, raça ou cor. Mais do que isso, muitas pessoas que eram “invisíveis” perante a sociedade agora se tornam tão protagonistas quanto qualquer outro.
O morador de rua que muitas vezes é ignorado, com fome, pelos transeuntes, se não for devidamente isolado e protegido, se torna um vetor da doença pondo em risco todo o organismo da sociedade.
O entregador que vivia a margem da economia, tratado como um serviço de menor importância, assume um protagonismo ao assumir o risco para fazer comida e outras necessidades chegar às pessoas.
Esse consciente coletivo precisa ser preservado após a pandemia e toda e qualquer situação deve sempre levar em consideração todas as esferas da sociedade, sem exceção, para seja legitimada e não tenhamos uma quebra desse organismo.
É preciso que todos aprendam que somos apenas um pedaço de um todo, cada qual com sua importância e consciente que não funciona sem o outro.
Ciência e Tecnologia
A necessidade de se resolver diversas questões, quer de conectividade, de controle ou de combate ao vírus, obriga a sociedade de uma maneira geral a adotar tecnologias muitas vezes não devidamente testadas ou discutidas, tanto do ponto de vista técnico quanto do ponto de vista moral.
O uso de determinados medicamentos, dada a urgência de se combater a doença, é colocado em prática sem muitos estudos e testes, ou melhor, os testes são realizados em paralelo e usando os doentes como cobaias.
O mesmo ocorre com os mecanismos de controle e mapeamento do isolamento, com o uso do rastreamento do GPS dos celulares para determinar zonas de maior deslocamento e aglomeração.
Cabe um profundo debate do direito de privacidade individual contra a necessidade de um bem maior, que afeta toda sociedade. Também cabe uma ampla discussão no processo de segurança de adoção de um medicamento contra a urgência de se salvar uma vida.
Dilemas como esses pode favorecer o surgimento de uma sociedade mais participativa como também um sistema totalitário e controlador. Cabe a todos estar atentos a tudo que acontece e participar ativamente do debate, de maneira sadia e não embasados em “achismos” e visões xiitas de grupos A ou B.
Aqui cabe também a importância de uma maior conscientização das pessoas sobre as fake news. Esse talvez seja o maior mal e a maior pandemia que deva ser enfrentada nesse momento, em paralelo ao combate ao vírus, para que a sociedade que vai emergir dessa crise seja melhor informada e capacitada a fazer correto juízo de valores baseado exclusivamente em fatos.
Globalização
Outra mudança que devemos ter no novo mundo, pós pandemia, é o conceito de globalização. Hoje já temos, devido a tecnologia, a informação correndo o mundo todo em questão de segundos. Mas isso não basta para nos nomearmos como globalizados.
É preciso que a sociedade mundial tenha consciência que não há espaço para busca de hegemonias. É preciso que lideres entendam que não há como ignorar parte do mundo como se fossem descartáveis.
Um simples vírus que surgiu em uma província da China, atingiu o mundo todo com um poder altamente destrutivo a ponto de paralisar a economia mundial, matar milhares de pessoas indiscriminadamente, sem distinção de poder bélico ou econômico.
Os próprios produtos necessários ao combate a doença, como respiradores e máscaras de segurança, estão em falta em um mercado global que se acostumou a comprar tudo da China, em função dos custos baixos, e que não está conseguindo dar vazão e atender toda a demanda.
Todo esse cenário precisa ser repensado. Cada nação tem sua importância global, quer por sua capacidade de produção, seus recursos naturais ou suas pesquisas científicas.
É preciso que esses recursos sejam melhor distribuídos, de fato com uma consciência globalizada, sem busca de hegemonia e poder.
Não há espaço para isso em um planeta com recursos finitos e 7,7 bilhões de pessoas. Todos são parte de um mesmo organismo.
Conclusão
Como pudemos observar, os desafios de um novo mundo são imensos, porém está ai a oportunidade de sairmos dessa crise melhores do entramos.
Cabe a cada um de nós fazer a sua parte. Com isenção e sem interesses egoístas no processo, para que possamos renascer de uma maneira realmente evoluída.