O perfil do empresário da saúde suplementar
O perfil do empresário da saúde suplementar
A algum tempo venho abordando aqui em nosso blog os problemas que as operadoras de saúde enfrentam em função da crise econômica e política do país, do alto índice de desemprego, dos abusos da ANS e da judicialização da saúde.
É inegável que esses problemas alheios a vontade da operadora, além de tantos outros na mesma situação, contribuem, e muito, para a crise que se instalou no setor nos últimos anos levando diversas empresas a terem suas operações impedidas, quer por intervenção da ANS, quer por não suportarem os efeitos dessa crise e encerrarem por si só suas atividades.
Todavia, hoje quero falar do outro lado da moeda: o perfil do empresário da saúde suplementar!
Para falarmos desse empresário, precisamos voltar um pouco no tempo e entender o cenário onde as operadoras de saúde surgiram. Os tempos eram outros. O país vinha de um regime militar e a inflação era galopante. Trabalhar com uma economia onde o valor do dinheiro é perdido muito rapidamente (basta lembrar das remarcações de preços que ocorriam diariamente em supermercados) abre um mar de possibilidades especulativas. Nesse mundo de inflação alta surgiram as primeiras operadoras de saúde. A grande maioria surgiu a partir de clínicas e hospitais que enxergaram nesse negócio a possibilidade de gerar movimento em seus serviços médicos que garantisse o ponto de equilíbrio financeiro além de uma receita recorrente.
Administrar os planos de saúde nessa época era fácil. Recebia-se adiantado dos beneficiários, pagava-se médicos e hospitais após 60 dias do atendimento. Mesmo que as negociações fossem malfeitas, a inflação compensava e fazia com que o dinheiro recebido fosse muito mais valorizado que o pago após a conta médica chegar e ser analisada.
Os empresários então, eram normalmente médicos que se aventuravam em um mercado de seguros, mas muito além disso, um mercado financeiro. Não havia regulamentação nem de ANS e nem de órgãos de defesa do consumidor, como o PROCON ou o IDEC.
Esses empresários prosperaram com seus negócios, mas muitos não procuraram se capacitar em outras habilidades que não fossem as clínicas. E com o plano Real, que acabou com a inflação, e na sequência, o marco regulatório, que culminou no surgimento da ANS, as regras do jogo também mudaram. Não bastava mais simplesmente ganhar dinheiro com os juros. Era preciso que houvesse de fato uma gestão riscos e custos. Mais do que isso, com o surgimento da ANS todos os planos se tornaram commodities, obrigando as operadoras a criar diferenciais competitivos para se destacar em meio a concorrência.
Hoje é comum esbarrarmos em empresários dessa época que não conseguem acompanhar a mudança e a dinâmica do mercado e por conta disso optam por abrir mão das operadoras. Outra situação bastante comum é a sucessão nessas empresas, onde herdeiros desses empresários acabam não desenvolvendo nenhum interesse pelo negócio dos pais e preferem se desfazer dele em função do alto risco existente.
Obviamente esse cenário não é uma regra. Temos exemplos de empresários que começaram exatamente da forma descrita acima que souberam perceber as mudanças, se antecipar a elas e tornar suas operadoras em verdadeiras potenciais. Da mesma forma houveram empresários que entraram nesse jogo depois do surgimento da ANS e conseguiram se tornar case de sucesso simplesmente remando contra uma tendência preestabelecida e pensando fora da caixinha. Mas esses casos são exceção.
Vencer as barreiras externas que se apresentam é extremamente necessário e urgente, mas é preciso que o empresariado de uma maneira geral aproveite o momento de crise e a entressafra para fazer uma autocrítica e buscar se reinventar e capacitar. Mais do que a injeção de sangue novo no setor, precisamos de novos pensamentos, rompendo paradigmas e criando uma nova governança corporativa nessas empresas.