Plano de saúde econômico aponta um futuro promissor
Plano de saúde econômico aponta um futuro promissor
Entre a dificuldade de acesso aos serviços de saúde da rede pública e os preços dos planos de saúde fora do alcance para quase um quarto da população brasileira, cresce um universo de pessoas que buscam acesso a algo intermediário aos dois mundos. Com isso, abre-se uma grande lacuna para o segmento de “saúde popular”, como planos de saúde mais baratos e cartões de descontos em saúde, como real alternativa às outras opções de saúde.
Segundo o IBGE, a taxa de desocupação na primeira semana de setembro deste ano, chegou a 13,7%, o que representa quase 13,5 milhões de pessoas sem trabalho. E conforme dados da ANS, entre março e junho de 2020, quase 400 mil usuários deixaram o setor privado de saúde, embora, uma ligeira recuperação tenha ocorrido nos meses de julho e agosto, o cenário econômico ora posto, aponta para baixas ainda maiores, pois é natural a queda na clientela dos planos de saúde quando se tem uma conjuntura nacional de perda de renda e de empregos formais.
Um outro fato a considerar ao analisar o segmento de “saúde popular” como uma boa alternativa para as operadoras de saúde expandirem sua base de beneficiários, são os registros históricos a partir de 2014. Em 2014, de acordo com os registros da ANS, o setor alcançou um pico de 50,5 milhões de beneficiários, e em função da queda do poder de compra dos brasileiros, provocada pela situação econômica do Brasil a partir de então, esse número vem diminuindo, atingindo em junho de 2020, o registro de 46,8 milhões de beneficiários. Portanto, nesse período, o setor perdeu 3,7 milhões de beneficiários. Essa evasão se analisada em um contexto mais amplo, demonstra claramente, um ambiente propício à oferta de novas soluções de saúde privada alinhadas com a capacidade de pagamento do público desassistido, e com os interesses, obviamente, dos diferentes participantes do sistema.
Não é de agora que o segmento de saúde popular é alvo de quase todos os players do setor. Afinal, em um país com mais de 211 milhões de habitantes e apenas um quarto dos brasileiros têm acesso à saúde privada, estamos falando de um mercado muito atraente. O desafio está no redesenho das relações com os consumidores e prestadores de serviços, de forma, a readequar os produtos de acordo com a capacidade de compra do consumidor e simplificar o seu acesso aos serviços médico-hospitalares,ou seja, o desafio é a quebra de paradigmas e a socialização da oferta do serviço de saúde.
Nessa linha, se observarmos a movimentação desse mercado nos últimos 6 anos, com base nos registros da ANS, iremos constatar que as operadoras que buscaram a integração vertical ampliando suas áreas de atuação, assumindo funções que antes eram delegadas, por exemplo, a prestadores de serviço, e focaram no indivíduo, nas suas escolhas, hábitos, estilo de vida, e não na doença, tiveram um crescimento muito significativo, algumas, atingiram a taxa de 130% de crescimento no número de beneficiários. Esse modelo reduziu significativamente a demanda por alguns serviços nos hospitais e propiciou um controle muito maior e mais eficiente dos custos dos serviços ofertados.
A verticalização como processo de integração de assistência à saúde é um bom caminho a ser explorado para atender esse público de forma mais eficaz e com ofertas mais econômicas.
Um outro bom indicador para avaliar em que direção esse mercado caminha, é o aumento vertiginoso das clínicas populares a partir de 2014. Embora ainda não haja números oficiais sobre o crescimento do setor, o crescimento é visível, é um fenômeno que merece uma análise peculiar. Mesmo ofertando procedimentos em saúde de baixa e média complexidade, esse modelo de negócio demonstra um ambiente de mudança de perfil desse público, e ainda, mostra fortes indícios de que todas as partes envolvidas estão tendo suas necessidades atendidas. Ao que parece, as clínicas populares estarão cada vez mais presentes no cenário da saúde.
Os cartões de desconto em saúde também são um bom termômetro para medir os desejos e necessidadesdessa população de que estamos falando, mesmo ainda, com a ausência de estatísticas para medir a velocidade do crescimento desse modelo de assistência à saúde, o avanço das empresas desse segmento a partir de 2014 é notório, e não deixa dúvida de que a saúde popular clama pela oferta de opções mais econômicas e sem grandes exigências, o que esse público está buscando é um serviço rápido e com preços que caibam em seu orçamento. E nesse sentido, a saúde popular apresenta um alto potencial de crescimento.
É fato de que as operadoras de saúde vêm há muitos anos buscando atender a população de baixa renda, principalmente a classe média-baixa desassistida por planos privados, que depende exclusivamente do atendimento do SUS. E, é fato, de que boa parte delas alcançaram de 2014 até o presente momento, resultados expressivos nesse contexto. Porém, a barreira existente entre a oferta de soluções a preços acessíveis e os altos custos hospitalares , foram fatores preponderantes que impediram maiores avanços. E equilibrar essa equação é um desafio que não está resolvido, e não é fácil de se resolver.
Por outro lado, o Brasil a partir da pandemia é outro. Estamos vivendo um momento de desaceleração econômica, um aumento da consciência da população em relação aos cuidados com a saúde e a prevenção de doenças, e ter o poder de escolher em qual consultório ou hospital se consultar não é mais prioridade de boa parte das pessoas que buscam um plano de saúde, especialmente as de baixa renda.
E na contramão do atual cenário macroeconômico brasileiro, o setor de saúde encontra-se em expansão e se tornou alvo de grandes players. E de acordo com dados do ministério da saúde, o Brasil continua sendo o oitavo maior mercado de saúde do mundo. Portanto, estamos em um momento de mudança de paradigmas, propício a construção de novos arranjos que protejam o equilíbrio entre todos os atores da cadeia de assistência à saúde, prestadores de serviços, intermediários e operadoras. A ocasião é a de compreender o significado dessas mudanças e o impacto positivo que elas trazem para a expansão dos planos de saúde populares.
Em última análise, opções mais econômicas apontam para um futuro promissor. E uma boa forma de oferecer soluções mais baratas com o devido equilíbrio da equação custo-benefício, ainda é a adoção do modelo verticalizado de assistência à saúde, que integra operadora de saúde e hospitais próprios, esse modelo quando bem desenhado, permite ganho de escala, e é menos suscetível a impactos inflacionários da saúde, uma vez que a rede própria garante qualidade e sustentabilidade financeira. Acredito, que ele seja o principal fator para capturar uma grande parte dessa massa de pessoas que estão fora do sistema de saúde privada.